Santo Afonso, Santo


A fundação da Congregação não é um fato inesperado e nem solitário. Estamos tão centrados na pessoa de Afonso que esquecemos os diversos elementos e pessoas que para isso concorrem. É de se notar que Afonso tem consciência clara de seu papel, como se vê em seu “diário”. Quando faz o voto de não deixar o Instituto (28.11.1732), ajunta uma frase monumental: “… quanto às regras, estabelecê-las ou mudá-las fica ao meu arbítrio. Explicá-las ou colocar outras condições, fica ao meu arbítrio”. Entraram no contexto da criação do Instituto, sobretudo Falcóia, que pretendia fundar uma Congregação nesta linha, e Maria Celeste, que dá o toque inicial e contribui com o texto de seus escritos. Estão juntos os colegas que estiveram juntos nas capelas vespertinas e nas Missões Apostólicas.

 

Três são os elementos que fortemente encaminham Afonso para a decisão: as capelas vespertinas, as Missões Apostólicas onde iniciou sua atividade missionária e suas férias em Santa Maria dei Monti. Afonso, depois de missões na cidade de Nápoles, teve uma forte experiência nas regiões de Puglia, região pobre e abandonada. Aí começa seu 3° êxodo: ao mundo do abandono. Quando cansado, faz juntamente com outros missionários as férias e descobre nos cabreiros o ponto de chegada de seu processo. Volta para casa pedindo a Deus que suscitasse entre os filhos de Abraão alguém que se ocupasse deles. Não era mais o mesmo. Tannoia fala que seu coração lá ficara. Isto foi em julho de 1730.

Depois da fundação da Ordem, Celeste diz que Deus o quer nessa obra missionária. A bomba explode na capital: Afonso estava doido. Estava seguindo uma freira visionária. Ele responde: Estou me guiando pelo Evangelho. Depois de tanta consulta, certo da vontade de Deus, junto com companheiros seus das Missões Apostólicas e outros, reúne-se com Falcóia em Scala e dão início à Congregação. Nos primeiros dias fazem o projeto do Instituto. Eram tantas as idéias: Afonso se bate pela obra missionária; os outros querem outras coisas como escola etc.

 

Não chegando a conclusão fazem a primeira experiência missionária em Tramonti no mês de janeiro. Sucesso total. As dificuldades de entendimento fizeram que alguns o deixassem. Ele fica só com Vítor Curzio, o irmão leigo e o Pe.  Ele tem uma certeza: “Deus não tem necessidade nem de mim nem de minha obra. Contudo eu creio que ele me ordena a prossegui-la, apesar de estar só, eu me esforçarei para chegar ao objetivo”. Os que se foram fundam outra Congregação. Mais tarde quererão por todos os meios unir-se a Afonso, usando até mesmo a força do Rei. Afonso recusa-se terminantemente.

O que sustentava Afonso no embate? Seu êxodo! Ele caminhava como se visse o invisível. Tannoia conta: “Nos primeiros dias de novembro, … cavalgando com dificuldade um jumento de carga e, ocultando sua partida de seus parentes e amigos, deixa Nápoles e se dirige para a cidade de Scala … fazendo a Jesus Cristo um sacrifício total da cidade de Nápoles, ofereceu-se para passar os seus dias dentro de choças e tugúrios e para morrer entre camponeses e pastores” . Leva dentro de si um projeto: uma comunidade-missão entre e para os abandonados.

Assim estabelece a vida comum como missão permanente. Cria comunidades e forma jovens ardorosos que chegam para continuar Jesus Cristo pregando a Palavra de Deus aos pobres, não somente dando missões, mas fazendo uma passagem significativa para o lado deles. A dimensão pobre, popular, será o móvel de toda ação de Afonso em toda sua multiforme atividade: missionário, moralista, espiritualidade, missões, vida de sua congregação, sua atividade episcopal, pregador, confessor, construtor etc., seu projeto penetra sua vida e faz dele um projeto vivo.


Os redentoristas da atualidade poderão continuar o projeto, que é urgência na Igreja de hoje. Para tanto é preciso fazer com Afonso o seu êxodo: Evangelho como única verdade, serviço aos pobres e encarnação no mundo do abandono.

 

 

 

 

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