Desde 1964, a Igreja Católica no Brasil, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade. Lançada sempre no início da Sagrada Quaresma, é uma campanha que não deve ser vivida apenas nesse período, mas ao longo de todo o ano, como proposta de evangelização e conversão pessoal e comunitária. Sempre com temas atuais, coligados às realidades eclesiais e sociais da Igreja no Brasil e no mundo, nos mostra que o itinerário de vivência cristã não se efetiva apenas nas paredes das igrejas, ou tão somente nas pastorais e grupos de oração. A nossa vivência da fé também se dá onde a vida em abundância é diminuída e ameaçada.
Para este ano, somos convidados a refletir, pela terceira vez nesta campanha, o tema “Fraternidade e Educação”. O lema é retirado do livro dos Provérbios, onde se diz: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Tal reflexão é oportuna e atualíssima. O Santo Padre, o Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti faz a todas as pessoas de boa vontade uma reflexão questionadora: “O que acontece quando não há a fraternidade conscientemente cultivada, quando não há uma vontade política de fraternidade, traduzida em uma educação para a fraternidade, o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo como valores? ” (FT, 33). Dias depois, também propôs o Pacto Educativo Global, uma via para se pensar uma educação mais humana e solidária, onde o ser humano – e não opções econômicas ou políticas – é o centro da aprendizagem.
O processo educativo não se dá apenas no ambiente escolar; ele se dá no cotidiano, quando transmitimos às crianças e aos jovens os valores morais de nossa sociedade. Também quando adultos, aprendemos de outras culturas seus ensinamentos e códigos éticos. Quando ouvimos de nossos idosos a experiência de seus anos de vida, aquilo que lhes deu sentido e horizonte. E a educação também se dá na vivência e no aprendizado da fé cristã.
De Cristo, o Pedagogo de nossas almas, aprendemos a ver o verdadeiro rosto do Pai. Clemente de Alexandria, Pai da Igreja do final do século II e início do século III, assim dizia de Jesus, Nosso Redentor: “O Cristo, Palavra de Deus, realiza um belo programa para nos dar uma educação eficaz. Primeiro Ele nos converte; em seguida, educa-nos como um pedagogo, e, por último, ensina-nos”. Para este mestre da fé cristã, Jesus Cristo é o modelo perfeito de toda a justa e boa educação para fé. O ensinamento de Cristo é sábio e amoroso, e provoca-nos a segui-lo com fidelidade, mesmo que essa fidelidade encontre seu ponto decisivo na perseguição, no sofrimento, nas cruzes de nossa sociedade contemporânea. Por isso a Quaresma é tempo propício para essa reflexão, pois nos mostra onde estão os crucificados de hoje, e como nós podemos ajudar aos sofredores a carregarem suas cruzes, além de nos colocar também na dinâmica de servos sofredores.
O venerável Padre da Igreja e Doutor da Unidade, Santo Irineu de Lyon, deixou-nos a premissa de que “A glória de Deus é o homem vivo”, ou seja, que a salvação do ser humano, em todos os níveis e aspectos, reflete a majestade do nosso Divino Criador. E, como cristãos, devemos lutar para que essa vida e essa glória, sejam abundantemente manifestas. Ao cobrar dos governantes uma educação digna, de qualidade, e que inspire aos nossos jovens e nossas crianças a viver por ideais que realmente valem a pena, contribuímos para que através da verdade, a Verdade de Deus seja glorificada. Pois o conhecimento é uma via mais que útil e possível para se conhecer a Deus.
Por Nelson Hugo Carvalho de Oliveira, Noviço